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domingo, 2 de setembro de 2012

Puta feita


                                                    Obra: Jovem virgem auto-sodomizada pela
                                                                    sua própria castidade, de Salvador Dalí, 1954.



Não precisava daquele corpo. Nunca precisou. Aliás, ele só havia lhe trazido problemas. Para que tantas curvas? Atraía sem saber. Primeiro foi o pai que lhe observava pelo buraco da fechadura durante o banho e, de noite, fazia sempre questão de lhe por para dormir. O beijo de boa noite nunca vinha sozinho. Depois, quando trabalhou em casa de família, foi a vez do marido da patroa. Dava sempre um jeitinho de chegar em casa um pouco mais cedo, dizia coisas e a comia com os olhos. Quando chovia, oferecia-se para levá-la em casa de carro. Ela precisava do emprego, o pai, doente, não podia mais trabalhar. Contudo seus pensamentos eram o oposto de seu corpo, neles não havia curvas. De quem a culpa? Da natureza? De Deus? Queria ser virtuosa, mas suas virtudes se desfaleciam em suas carnes. Não adiantava vestir roupas largas, qualquer vestimenta lhe destacava as formas. Entregou os pontos. Perdeu para sua própria carne, porque a carne predomina, a carne não é fraca, a carne é forte.