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sábado, 15 de janeiro de 2011

Prefácio de "Ecos e outros versos"




Seguindo uma constante entre os melhores poetas brasileiros, a poesia de Eryck Magalhães é sem dúvida marcada por uma profunda e obstinada busca da palavra justa, navegando, conforme ensinado por João Cabral, perigosamente entre os rios da participação e da construção, sina, por motivos óbvios, de literaturas como a nossa. Mas que fique desde já afirmado: este é um poeta de timbre próprio.
Numa primeira leitura, a surpresa impõe-se, derivada justamente de sua riqueza. Há uma multiplicidade de temas, dicções e recursos que contrasta com a concisão tanto do livro quanto com a de quase todos poemas aqui presentes. Seus temas variam do amor --- “Passeio de fim de tarde” --- à metalinguagem de “Receita caseira”; do prazer lentamente saboreado de uma descoberta da infância --- “Aroma de amora” --- à noite sórdida --- “Sentinelas”.
As dicções, por sua vez, remetem a um intenso diálogo mantido pelo poeta com a tradição literária na qual se encontra inserido, por exemplo, “Antipoema” ecoa “Autopsicografia” de Pessoa, “Av. Paulista” é explicitamente oswaldiana, “Imperfeições da Linguagem” aponta para os concretistas e o humor nonsense de José Paulo Paes.
Mais duas últimas coisinhas sobre essa poesia instigante. A infinidade de recursos poéticos manuseados em Ecos e outros versos mereceria um parágrafo, impossibilitado, contudo, uma vez que o espaço se esgota. Só um toque: atente-se à espacialização do já citado “Imperfeições da Linguagem” e a do “Metrópole Concreta” ou às aliterações e paranomásias de “Resquícios”. Um outro toque: a temática tratando da questão negra no Brasil ocupa vários poemas, fato por si só capaz de suscitar indagações no leitor, deve ser lembrado, porém, a participação de Eryck Magalhães na Educafro, curso Pré-vestibular voltado a afrodescendentes, primeiro como aluno depois como coordenador, como também essa matéria ter ocupado o autor no período de conclusão de seu curso superior em Letras.
Por fim, há reparos sem dúvida, mas isso são senões diante de uma obra que se inicia, pedras no caminho, mas pedras no meio do caminho, de acordo com Drummond, compõem o itinerário da poesia, assim, por ora, usufruam, deleitem-se.
  
                                                                João dos Santos Clemente Neto