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domingo, 18 de dezembro de 2011

Efemeridade

sempre se está
prestes a.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Sem eufemismo

  - Agora já pode possuir a noiva.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Do verso verdadeiro



                                  Tudo que é poesia verdadeira ressoa Pessoa.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Vértice

Uns dizem orixá, outros santo
uns dizem catolicismo, outros candomblé
uns a chamam de Iemanjá, há quem a chame de Maria
uma dizem que é religião, a outra crendice
mas quem disse?


(Eryck Magalhães, Ecos e outros versos, 21)

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Leva tempo



para que o amor de
                                        um
cruze o amor de
                            outro

às vezes
leva uma vida inteira
e eles          não
          se              cruzam

para os afortunados
eles já nascem entrelaçados


*poema selecionado para o Livro Prêmio Alt Fest, patrocinado pela Fliporto.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Aroma de amora



No interior,
facilmente se encontra pés de amora
e debaixo deles se namora.

Quando criança, no caminho de volta da escola
gostoso era comer amora,
colher amora...
ajudar as meninas a trepar nos galhos mais altos,
segurá-las pelas mãos...

Colocar amoras (as mais suculentas)
em suas bocas,
e observar o doce suco da fruta
tingir-lhes os lábios.

Chegar em casa de roupas manchadas
e ouvir as queixas de mamãe:
"suco de amora não sai da roupa"
e da memória.

(Eryck Magalhães, Ecos e outros versos, 57)

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Lançamento do livro Pelas Periferias do Brasil-vol 5


                                      Eu e Oliveira, um dos autores da coletânea.

Convite


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Feliz dia das crianças


O pato indeciso
empata toda hora
com a linda patinha branca
ele não sabe se namora.

             ***

Nhoca
a minhoca dorminhoca
come nhoque
todo dia
nhoc nhoc
nhoc nhoc 
nhoc nhoc
que alegria!

domingo, 2 de outubro de 2011

Acerto de contas

|O Papa diz:
- Perdão.
O Pajé, de terço no pescoço, responde:
- Amém.

(Eryck Magalhães, Ecos e outros versos, 35)

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Estátua

(Foto de Eryck Magalhães, Cemitério dos Passos, Guaratinguetá-SP)


Aquela estátua sempre estivera ali, imóvel, fria e cinza. Guardava dela uma vaga lembrança de infância, quando em dia de finados ia com meus pais visitar os falecidos entes da família. No entanto aquela foi a primeira vez que realmente a olhei, ou ela olhou para mim. Não havia ninguém por perto, o cemitério estava vazio. Apenas eu e ela. Aproximei-me um pouco e pude conferir seus contornos, os ombros curvados.  O cotovelo sobre uma das pernas servia de apoio para o braço que sustentava a mão cujos dedos, entrelaçados aos cabelos, amparavam a fronte. Em sua superfície, principalmente perto dos ombros, havia uma camada de musgo. Num ímpeto a toquei. Não sei se a intenção era a de confortá-la, acalmá-la ou até mesmo a de acariciá-la. Enfim, a toquei. O musgo que lhe cobria era como se fosse um manto de veludo, assim eu o senti com as pontas dos dedos. Por um momento, quase que senti seu tronco arfar como em um suspiro profundo. Um vento frio passou por mim. Ajustei meu casaco ao corpo e parti.
Assim como a mulher de Ló, não pude deixar de olhar para trás. Entretanto a estátua era ela. Não nego que tive vontade de ficar ali, imóvel, contemplando-a, mas o vento me soprou adiante. Carrego dela esta última imagem na retina. Às vezes, ela me aparece em sonhos dos quais não me recordo muito bem. Ela nunca fala, as vestes sempre as mesmas. Seus longos cabelos frente à face me impedem de admirar suas feições, mas sua energia me atrai feito imã. Sei que mais dia menos dia vou ter que voltar lá para visitá-la. Não sei quando. Hei de vê-la e, desta vez, contemplar seu semblante. O rosto, quero ao menos um esboço de sorriso, a tez de pétala de rosa branca, os olhos cintilantes.  Eu, o anjo e ela, Santa Teresa. De nós, o êxtase. 

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

terça-feira, 12 de julho de 2011

Dessubstancialização

                         
                         A oca, outrora oca

                                hoje é oca

(Eryck Magalhães, Ecos e outros versos, 18)

sábado, 18 de junho de 2011

Arritmia



O sentimento muda tal qual nuvem.

O mesmo amor que desarma,
arma...

O bem-querer que acalma,
desalma...

O abraço que afaga,
afoga...

Coração é folha seca,
pena de passarinho à deriva,
quem traça o caminho é o sopro do vento.

(Eryck Magalhães, Ecos e outros versos, 44)

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Lapsos e tessituras



Eu e o poeta e contista de Cachoeira Paulista, Jurandir Rodrigues, na noite de lançamento de seu livro de contos: "Lapsos e tessituras".

domingo, 5 de junho de 2011

Cheiro de saudade


                                   

                dedicado à avó Maria


cheiro de mexerica
e o aconchegante sol de inverno
só não era mais aconchegante
que a companhia de minha avó

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Antes do amém


        Tentava se concentrar enquanto rezava o terço, todavia uma cólica intestinal exigia sua atenção e parecia fazer questão de lembrá-lo, a todo o momento, do seu lado mais humano. Com muito esforço, chegou ao quinto mistério, porém a vontade tornou-se incontrolável. Correu em disparada ao banheiro com terço e tudo, arriou as calças, sentou-se no vaso e, quando finalmente ia dar cabo ao seu intento, o seguinte pensamento invadiu-lhe a mente: ‘Será pecado rezar e cagar ao mesmo tempo?’. O questionamento travou-lhe o esfíncter . Ficou ali, sobre o vaso, de terço nas mãos, balbuciando uma ave-maria e tentando achar uma resposta. Enquanto isso, a vontade ia reformulando-se em pequenas ondas até se tornar uma imensa onda em pleno mar revoltoso. Apressou a reza, segurou o máximo que pode mas, antes de dizer o amém final, aquilo tudo veio abaixo como golpes de um martelo furioso.
            Sentiu vergonha de si mesmo, até porque o alívio era extremamente prazeroso. Sentiu vergonha de Deus, certamente ele havia presenciado tudo, visto que em todo lugar está. E o esforço? Todo em vão! Restou-lhe o confessionário. Mal limpou a bunda e subia as calças e pôs-se a caminho da igreja. 

domingo, 1 de maio de 2011

Sobremesa


Acometida pela fome, Chapeuzinho Vermelho parou no meio da floresta e comeu o bolo que levava para a vovó. Ao chegar ao seu destino, deparou-se com o lobo prestes a comer a pobre velhinha. Não teve dúvidas. Devorou o lobo.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Guará: Shopping promove evento na Semana do Livro


A partir desta quinta-feira, haverá noite de autógrafos com escritores
Acontece nos próximos dias 28, 29 e 30 de abril, no Buriti Shopping Guará, a Comemoração da Semana do Livro – que contará com Banca para Troca de Livros, Teatrinho, história infantil e história sensorial contadas por especialistas, noites de autógrafos e encontro com escritores além de debates sobre temas variados.

Estão confirmadas as participações dos escritores Ana Cecília Láua, Tonho França, Henrique Alckmin, Eliana Maciel, Isabel Ramos, Nídia Violante, Wilson Gorj, Fabiano Garcez entre outros.

A empresa “Novakraft”, de Potim, promoverá no local uma Oficina de Papel Reciclado para divulgar a importância da reciclagem e ainda conta com a participação de deficientes visuais interagindo com o público. Os produtos que resultam desse projeto estarão à venda na Papelaria Nobel. A participação é gratuita e aberta aos interessados.
Fonte: http://www.vnews.com.br/noticia.php?id=9457

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Melancolia


Tamanho era o sofrimento que chorar as pitangas de nada adiantaria. Chorou melancia.

sábado, 5 de março de 2011

Epifania

Em uma tarde de fortes ventos, uma rosa branca, impelida pela ventania, pode finalmente realizar seu desejo. Desferiu no beija-flor um beijo e tingiu-se de vermelho.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Tuitadas

Ele: vem cabrocha!
Ela: vem cá, broxa!
        
***          

Cueca / Cu? Eca!
       
***

amar ela / amarela / amá-la / amala / a mala / mala / la
                              
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Compus, não com sangue, com pus.

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O homem nega o cio. Negocia.

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Tu supões /  tu chupões / two chupões

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Eclipse é quando o Sol copula com a Lua.

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a leitura me apraz me apraz mea praz mea paz paz

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Paixão é quando os corações são imãs um do outro.

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Quem não é fruto de um caso, só pode ser fruto do acaso.

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Sessão Maria

1- Para os fumantes: Maria-fumaça.

2- Para os sentimentalistas: Maria mole.

3- Para os promíscuos: Maria-sem-vergonha.

4- Para os altruístas: Maria vai com as outras.

5 - Para os puritanos: Maria, a virgem.

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Lágrimas fertilizam o sentimento.

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Crianças são como nuvens, brincam sem consciência.

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Não sei quantos poemas estão incubados em mim. No momento certo, não hesitarei em pari-los.

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sussURRO

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Entre a existência e o nada, um fio tênue _____________________ 

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O fresco ar da manhã, injetado nos pulmões com violência. Não há dor, há vida.

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Nós somos nós duros de desatar...

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sábado, 15 de janeiro de 2011

Prefácio de "Ecos e outros versos"




Seguindo uma constante entre os melhores poetas brasileiros, a poesia de Eryck Magalhães é sem dúvida marcada por uma profunda e obstinada busca da palavra justa, navegando, conforme ensinado por João Cabral, perigosamente entre os rios da participação e da construção, sina, por motivos óbvios, de literaturas como a nossa. Mas que fique desde já afirmado: este é um poeta de timbre próprio.
Numa primeira leitura, a surpresa impõe-se, derivada justamente de sua riqueza. Há uma multiplicidade de temas, dicções e recursos que contrasta com a concisão tanto do livro quanto com a de quase todos poemas aqui presentes. Seus temas variam do amor --- “Passeio de fim de tarde” --- à metalinguagem de “Receita caseira”; do prazer lentamente saboreado de uma descoberta da infância --- “Aroma de amora” --- à noite sórdida --- “Sentinelas”.
As dicções, por sua vez, remetem a um intenso diálogo mantido pelo poeta com a tradição literária na qual se encontra inserido, por exemplo, “Antipoema” ecoa “Autopsicografia” de Pessoa, “Av. Paulista” é explicitamente oswaldiana, “Imperfeições da Linguagem” aponta para os concretistas e o humor nonsense de José Paulo Paes.
Mais duas últimas coisinhas sobre essa poesia instigante. A infinidade de recursos poéticos manuseados em Ecos e outros versos mereceria um parágrafo, impossibilitado, contudo, uma vez que o espaço se esgota. Só um toque: atente-se à espacialização do já citado “Imperfeições da Linguagem” e a do “Metrópole Concreta” ou às aliterações e paranomásias de “Resquícios”. Um outro toque: a temática tratando da questão negra no Brasil ocupa vários poemas, fato por si só capaz de suscitar indagações no leitor, deve ser lembrado, porém, a participação de Eryck Magalhães na Educafro, curso Pré-vestibular voltado a afrodescendentes, primeiro como aluno depois como coordenador, como também essa matéria ter ocupado o autor no período de conclusão de seu curso superior em Letras.
Por fim, há reparos sem dúvida, mas isso são senões diante de uma obra que se inicia, pedras no caminho, mas pedras no meio do caminho, de acordo com Drummond, compõem o itinerário da poesia, assim, por ora, usufruam, deleitem-se.
  
                                                                João dos Santos Clemente Neto

domingo, 2 de janeiro de 2011

Fatalidade


Era aficionada por livros. Destino traçado: seria uma intelectual. No entanto, foi encontrada morta sobre um livro. A indigestão matou a traça.