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quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A paixão de Cristo




           Enquanto agonizava, de pés e mãos cravados na cruz, tentava lembrar de algo que o ajudasse a suportar a dor. Pensou em Madalena e em tudo que viveram.


domingo, 13 de dezembro de 2009

Rosa de sangue

        


     

           Em meio aos compactos arbustos verde-musgo, destacava-se apenas uma rosa vermelha. Arrancaram-na brutalmente. Na palma da mão, mais parecia um coração palpitante. Um punho cerrado impeliu contra ela toda a sua força. Sangue correu pelo vão dos dedos. Não atentara para os espinhos.


quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O sacrifício




        
          De mãos atadas e olhos tapados pela mão de seu próprio pai, Isaac ouviu uma voz:
          - Não estenda a mão sobre o teu filho e a ele não faça mal algum.
          Viu o pai prestes a desferir-lhe um golpe de punhal. Perdoou-o, mas não pode mais amá-lo. Sempre pensara que o amor do pai era incondicional.
          Deus sentiu-se culpado, mas transferiu a culpa a Abraão.


segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Tempo indolente



        Cristão fervoroso, sempre sonhara em ver a Capela Sixtina de perto. Não poupou esforços. Após anos de economia, foi ao Vaticano. Ao contemplá-la, desconverteu-se. Viu Deus de cabelos e barba grisalhos. Os traços vincados. O próprio Deus, combalido pelo tempo.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Discórdia


        
                                                      
         Lúcifer andava cabisbaixo pelo paraíso. O Senhor perguntou-lhe:
         - Por que padeces?
         - Pai, tenho sofrido muito. Não tenho vocação para anjo. Liberte-me desta incumbência. Envie-me para a terra.
         O senhor negou o pedido. Na primeira oportunidade, Lúcifer fugiu.

sábado, 28 de novembro de 2009

Terceira idade



      
       Quando jovem, atéia destemida. Após inúmeros louvores à vida, foi-se o vigor. Em seu lugar, um buraco que a fé logo tratou de tapar. Aprendeu todas as rezas e, de terço em mãos, entrou na terceira idade.

domingo, 22 de novembro de 2009

Soberba


          
            Jesus terminava sua jornada. Quarenta dias e quarenta noites no deserto. O Diabo apiedou-se e ofereceu-lhe um pedaço de pão. Atônito, Jesus respondeu:
          - Ando a caminhar por estas paragens há dias e é pão que me ofereces? Nem só de pão de vive o homem.
         O Diabo virou de costas e foi-se embora.

sábado, 21 de novembro de 2009

Eles sabem o que fazem



      
         Vendeu tudo o que tinha. Até mesmo o par de alianças. Doou à igreja, na esperança de ver o marido curado. Meses depois, faleceu. O pastor confortou-a.
       - Ele está na glória de Deus... Essa era a vontade Dele... Somos pequenos demais para entender Seus desígnios... Foi um homem muito distinto, sua generosidade não era deste mundo...

Conversão



         
           Tinha quinze anos. Entre as amigas, a única virgem. Apelidaram-na Maria. Ao longo dos anos, caiu na vida. Ganhou um sobrenome: Madalena.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

A sua imagem e semelhança




                 
                 Alta madrugada. O Papa acorda com o coração na boca. Tivera um pesadelo no qual era Deus. Senta-se à beira do leito, limpa o suor da fronte, o peito arfando. A sua frente, um espelho... Olha, vê Deus.

domingo, 15 de novembro de 2009

Fé de barro




Sempre repugnou a ciência e exaltou a fé. Adoeceu, não foi à igreja, mas ao médico. Antes de dormir, rogava a Deus para que abençoasse aqueles comprimidos. Deus, ressentido, não lhe deu ouvidos.

sábado, 14 de novembro de 2009

O triste fim de um infante poeta


Aprendeu a ler num átimo. Desde então passou a devorar livros. Ao se deparar com a palavra diálogo, estremeceu. O medo de pronunciar diabo o impediu de seguir adiante.

Certo por tortuosas linhas


Quis vender a alma ao Diabo. No entanto, desistiu. Não conseguiu encontrá-lo. Indignado, decidiu se entregar a Deus. Atirou-se de um penhasco.

Perdendo a condução


No ponto de ônibus, dois cristãos. Assento, apenas um. Ambos pensaram: “Ame o próximo como a si mesmo”. Um deles então disse: “Pode se sentar”. O outro prontamente respondeu: “Faço questão que você se sente”. O ônibus passou e eles passaram a eternidade oferecendo um ao outro o assento.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Caminhão-pipa


Ela vinha de longe, entoada pelo vento, multicolorida, serpenteando, rasgando o céu e causando fascínio nos olhos dos meninos. Um deles saiu em disparada e ali na frente, na esquina, foi esmagado pelo caminhão-pipa.

Com a cabeça nas nuvens


Andava sempre com a cabeça nas nuvens. Um dia, tropeçou em uma pedra e arrebentou o dedo. Além da dor, o sangue saltou-lhe aos olhos. Desde então, passou a andar com a cabeça nos pés.